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Felícia Cabrita: A liberdade de uma carreira ímpar

2024-11-25

O mar foi um grande centro de descoberta, coragem e testagem de limites. O que levou do Algarve sempre foi indestrutível, por já estar na sua fibra e sangue.

Boletim de Quarteira (BQ) – É natural de Quarteira, mas mudou-se para Lisboa muito cedo. Sempre teve uma ideia do que queria vir a ser?

Felícia Cabrita (FC) – Eu sempre escrevi. Era muito pequena quando comecei a escrever poesia. Antes de entrar para a faculdade já era amiga de alguns poetas surrealistas que me influenciaram. Era ainda menor quando comecei a escrever num jornal e só depois dessas andanças é que entrei na Faculdade, o que me serviu para estruturar as minhas leituras e ideias. Quando terminei o curso tive a sorte de ser convidada para ir para o Expresso, através da Clara Ferreira Alves.

BQ – Como surgiu o interesse pelo Jornalismo de Investigação?

FC – Eu acho que o homem é muito mais obra do acaso do que dos seus desejos e sonhos. Eu entrei para o Expresso e tive a sorte de ter como diretor o Joaquim Vieira que, como tinha abandonado o jornalismo de investigação, achou que eu era a sua fiel depositária. Ele gostou do que eu fazia, eu gostava do que ele propunha: especializei-me em biografia política e em guerra colonial. Eu costumava dizer que, durante muito tempo, fui uma operacional. Só mais tarde, quando o Joaquim saiu do Expresso, é que tive de me desenrascar e procurar os temas que me interessavam. Tornei-me dona, para o pior ou para o pior (risos), do meu destino.

BQ – Investigou alguns casos muito mediáticos em Portugal. Quais foram os maiores desafios e pressões sentidas?

FC – Eu nunca tive medo porque sou inconsciente. Já tive ameaças físicas e de bombas e liguei apenas a uma onde me ameaçaram com a vida da minha própria filha. Pior do que a ameaça física são os processos jurídicos, quando tentam aniquilar financeiramente um jornal ou uma estação de televisão. Eu gosto de trabalhar no fio da navalha. Quando surge uma ameaça é quando me torno mais perigosa.

BQ – O que pensa sobre o jornalismo local e de investigação nos meios mais pequenos?

FC – O jornalismo local é fundamental, mas muito mais perigoso no que toca à investigação porque nos locais mais pequenos a pressão é maior. Existir um jornalismo local poderoso e combativo só vai enriquecer a terra.

BQ – Diz ter a consciência tranquila. Isto é sinal de satisfação pelo trabalho realizado. Que conselho daria a um jovem que esteja a começar na área da comunicação?

FC – O meu lema nunca foi desistir, mesmo perante trabalhos muito complicados. Tem de se tentar tudo, mas também é muito importante saber desistir quando uma história não tem pernas para andar. Mas nunca podemos deixar que nos pressionem.  E devemos levar a nossa profissão com tranquilidade e algum riso. Costumo dizer que não sei para onde vou, mas que se chegar com uma gargalhada sou feliz. É porque fiz tudo bem.  

«Serei sempre uma Algarvia. O Algarve para mim será, obviamente, o meu quartel. Será para aí que regressarei.» 
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